Iniciativa e realização
Escola Superior da Magistratura da AJURIS, através do Centro de Formação em Justiça Restaurativa.

Justificativa
As sucessivas ofertas de formação pela Escola Superior da Magistratura, da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS), têm permitido o acúmulo necessário para confirmar o entendimento de que os processos de formação, além de continuados e progressivos, necessitam cada vez mais de novas oportunidades para o enraizamento, na prática, do conhecimento adquirido. Por opção estratégica, a Escola AJURIS, através do seu Centro de Formação em Justiça Restaurativa, tem concentrado as suas atividades na formação de novos facilitadores e de instrutores, na compreensão de que sem a presença de facilitadores treinados e capazes de exercer com qualidade a gestão de encontros, a concepção restaurativa ficaria exclusivamente no plano teórico. Por isso, além do Curso Básico, destinado à formação de facilitadores para situações menos complexas; do Curso Avançado, destinado à formação de facilitadores para situações complexas; do Curso de Aprofundamento, destinado à retomada do conceito e, de forma minuciosa, à revisão de todo percurso teórico e prático tratado nas formações precedentes; e do Curso de Instrutores, destinado à habilitação de pessoas para a formação de novos facilitadores, produtos já por demais conhecidos do movimento restaurativo brasileiro, nascem, com o presente Plano, novas oportunidades de formação e de aperfeiçoamento, em resposta às sucessivas demandas nesse sentido, de que os instrutores e facilitadores formados pela Escola da AJURIS pudessem receber a supervisão das suas práticas, sempre com vistas ao aprimoramento do uso da metodologia e à consequente qualificação dos serviços oferecidos.
O presente Plano destina-se, portanto, ao acompanhamento supervisionado das práticas de facilitadores e instrutores com aproveitamento no curso correspondente ao ciclo oferecido, tudo para atender à demanda por qualificação e maior desenvolvimento do uso da metodologia que, no Brasil, foi apresentada pelos escritos e pelas sucessivas presenças da professora Kay Pranis, que passa a ter, na supervisão dos instrutores, espaço para atividades específicas de acompanhamento e orientação.

Ementa
Conceito, princípios, fundamentos e valores da Justiça Restaurativa em diálogo com os Círculos de Construção de Paz. Círculos de Construção de Paz: conceito, pressupostos filosóficos, tipologia e elementos estruturais da metodologia, com ênfase no planejamento, no check-in, na cerimônia de abertura, nas diretrizes, na contação de histórias, no relatório do procedimento, no termo de acordo, no check-out e na cerimônia de encerramento. A Supervisão Restaurativa como espaço seguro para refletir, avaliar e resolver questões relacionadas às experiências dos facilitadores e instrutores. A função da Supervisão Restaurativa na mobilização de repertórios para ampliação da confiança e resiliência dos facilitadores e instrutores diante do desafio de acolhimento de suas próprias vulnerabilidades na vivência prática do papel do instrutor e do facilitador. Enquanto reflexão coletiva de práticas, a natureza da supervisão será participativa e se dará em grupos, o que supõe presença plena dos participantes uma vez que os encontros se darão com a utilização da metodologia dos círculos de construção de paz, tendo por objeto os relatórios das atividades e as experiências dos próprios participantes.

Natureza da formação
Atividade complementar aos cursos de formação de instrutores e facilitadores de Círculos de Construção de Paz, com enfoque exclusivamente organizado e desenvolvido em ambiente telepresencial destinado ao desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes para o exercício das atribuições de facilitadores.

Objetivos específicos
Ao final das atividades de cada ciclo de formação, espera-se que os instrutores e facilitadores sintam-se com maior habilidade e competência para:

1. Compreender que o preparo pessoal e o pleno domínio da metodologia são pressupostos para o exercício bem sucedido das atividades de instrutores e facilitadores de Círculos de Construção de Paz;
2. Confirmar a importância de identificar a relação entre o contexto e a escolha do tipo de círculo mais adequado para cuidar das relações interpessoais nos mais diversos ambientes sociais;
3. Reconhecer que o autoconhecimento e o pleno domínio das diversas etapas do círculo são estratégias para diminuir as tensões e para naturalizar o desenvolvimento das atividades preparatórias e de condução dos encontros;
4. Ratificar o entendimento da importância do papel do facilitar como sujeito indispensável para o sucesso das práticas restaurativas baseadas nos Círculos de Construção de Paz;
5. Compreender a importância e o sentido de submeter a prática dos Círculos de Construção de Paz e os processos de formação de novos facilitadores à permanente avaliação.

Coordenação
Leoberto Brancher
Afonso Armando Konzen
Beatriz Gershenson

Docentes
Rafaela Duso
Raquel Ivanir Marques

Estratégias pedagógicas
As diversas atividades de cada ciclo de formação serão de natureza vivencial, com ênfase nos aspectos práticos da Justiça Restaurativa e dos Círculos de Construção de Paz, desenvolvidas em ambiente telepresencial pela plataforma Zoom acoplada ao Moodle. Os diversos temas serão tratados em encontros coletivos que supõem a interação entre o instrutor e os participantes. Para qualificar a participação, o diálogo e a interação, o número não excederá o de 25 participantes, podendo ser reduzido de acordo com a proposta específica do instrutor de cada edição.

Ciclo da atividade formativa
Ciclo de supervisão de facilitadores do Curso Avançado
As atividades de orientação e acompanhamento dos facilitadores do Curso Avançado terão centralidade na organização e realização de Círculos de Construção de Paz para situações conflitivas ou de maior complexidade, com as seguintes especificações:

• Estrutura: A orientação e o acompanhamento serão em formato telepresencial, desenvolvidas no total de 20 horas-atividade, carga-horária distribuída ao longo de dois meses em calendário disponibilizado pelo respectivo instrutor por ocasião das inscrições para cada edição.
• Calendário das aulas telepresenciais da presente edição:

• Pré-requisitos: frequência e aproveitamento nos cursos Básico e Avançado e um círculo realizado em situação conflitiva ou de maior complexidade (com relatório produzido).
• Disponibilidade de vagas: 20 alunos

Avaliação
A avaliação levará em conta a presença e a participação nas atividades em cada um dos encontros telepresenciais, sendo que a presença mínima para fins de certificação será de setenta e cinco por cento (75%) das respectivas horas-atividade correspondentes a cada ciclo formativo.

Referências
BOYES-Watson, Carolyn; PRANIS, Kay: Círculos em Movimento: construindo uma comunidade escolar restaurativa. Porto Alegre: AJURIS e Terre des hommes. 2015.
BOYES-Watson, Carolyn, PRANIS, Kay: No Coração da Esperança: Guia de Práticas Círculares. Porto Alegre: Tribunal de Justiça do RS, 2011.
DELGADO, J., DE GROOT, J., MCCAFFREY, G., DIMITROPOULOS, G., SITTER, K. C., & AUSTIN, W. Communities of practice: acknowledging vulnerability to improve resilience in healthcare teams. Journal of Medical Ethics, medethics–2019–105865, 2020.
KAYE, S., & HARRIS, G.. Participatory Action Research For Peacebuilding. Peace Review, 30(1), 62–68, 2018. doi:10.1080/10402659.2017.1419933
PYRKO, I., DÖRFLER, V., & EDEN, C.. Thinking together: What makes Communities of Practice work? Human Relations, 70(4), 389–409, 2016.. doi:10.1177/0018726716661040
PRANIS, Kay. Processos Circulares: teoria e prática. Tradução: Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena, 2010.
PRANIS, KAY. Círculos de justiça restaurativa e de construção da paz: guia do facilitador. Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. 2011.
WALLVANK, S. Maintaining professional resilience through group restorative supervision. Community Practitioner, 86 (8) 23-25, aug. 2013.